A ideia de que a AK-47 é uma arma revolucionária criada do nada por obra do "espirito-santo" de Mikhail Kalashnikov é completamente ridículo e figura como um dos mitos mais estapafúrdios no que diz respeito à projecção e construção de armas. Ao contrário da PPSh-41(http://world.guns.ru/smg/rus/pca-41-e.html) que advém de armas russas e foi projectada exclusivamente por soviéticos a Ak-47 não foi assim.
A Sudaev AS-44. A primeira tentativa dos Russos fabricarem um fuzil de assalto da STG-44. Infelizmente Sudaev faleceu em 1945 e não pode concluir o seu trabalho. |
Centenas de obras e fontes bibliográficas (como David, Miller. "20th Century Guns". Pag.163,264. London, Greenwich Editions) e páginas de internet (http://en.wikipedia.org/wiki/AK-47) referem que o inicio da demanda dos soviéticos por um fuzil de assalto comça não em Mikhail Kalashnikov mas sim nos primeiros modelos da MKB-42 (http://world.guns.ru/assault/de/mkb42-h-e.html) mais tarde melhorada e chamada de STG-44. Antes da entrada em cena do inventor da AK, surgem a Sudaev e a Tovarek, testadas respectivamente em 1944 e 1945.
Tovarek 7,62 fuzil experimental, testado no final de 1945.
Entretanto o mais novo Sargento de tanques soviético Mikhail Kalashnikov ferido em combate em 1942, recupera dos ferimentos e decide projectar uma sub- metralhadora, que apesar de não ser aprovada é verificado o talento de um jovem que sem formação específica consegue projectar uma arma bastante complexa (o desenho não é aprovado devido à complexidade) e é enviado para continuar os seus estudos no NIPSMVO. Aí projecta a sua segunda arma desta vez uma carabina semi-automática derivada de outra que conhece bem, a M1fornecida pelos EUA (http://world.guns.ru/rifle/autoloading-rifles/usa/m1-carbine-e.html). Apesar de o seu projecto não ser novamente aprovado servirá de base para a Ak-46, escolhida entre outros 5 (de 16) projectos para protótipo de produção.
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O primeiro protótipo da Kalashnikov de 1946 chamado de AK-46. Só aqui o então sargento Mikhail entra na contenda. |
Dos testes levados a cabo e com a AS-44 a servir de base de comparação (a mesma tinha parado o desenvolvimento após morte de Sudaev) é escolhida a Ak-46, junto com a AB-46 de Bulkin e a AD de Dementiev. A AK acaba rejeitada pois era inferior às duas outras armas em questão mas Kalashnikov usa os contactos e apoios que tem na comissão avaliadora da NIPSMVO (que já o conheciam dos trabalhos efectuados entre 1943 e 1946), para influenciar a revisão dos resultados e obter "luz verde" para continuar o desenvolvimento da AK-46.
Basicamente o primeiro modelo experimental de produção da Ak-47 de 1947. Para resolver o problema de pouca eficácia em disparo automático recorreu-se ao fuzil soviético TKB-415.
Novos testes mostraram-se inconclusivos entre a Kalashnikov, Bulkin TKB-415 e Dementiev KBP-410. Apesar de apenas as duas ultimas preencherem todos os requisitos da comissão, será escolhida a AK-47 principalmente devido à sua alta durabilidade. A produção começaria em 1948 em IZHEVSK com a adopção em 1949 pelas Forças Armadas Soviéticas.
Os problemas de produção acabariam por ser resolvidos novamente recorrendo a outra arma Korobov-TKB-517 (testada a meio da década de 1950), mais leve, barata de produzir e com melhor desempenho em disparo automático ( http://world.guns.ru/assault/rus/korobov-tkb-517-e.html), sendo que apesar de melhor arma foi preterida pela AK/AKM com a qual os soldados soviéticos já estavam familiarizados.
A TKB-517. Viria a solucionar muitos dos problemas de produção, peso e fogo em automático da Ak-47. Apresentada aos soviéticos em meados dos anos 50, era superior em práticamente tudo à Kalashnikov mas acabou preterida pelo facto de as tropas já estarem habituadas à AK/AKM e possivelmente por razões também políticas.
Concluindo, Mikhail Kalashnikov teve o mérito de juntar um conjunto de soluções de uma amalgama de armas e criar um dos maiores fuzis de assalto de todos os tempos. Agora é visível que o seu trabalho foi altamente influenciado por outros fuzis de assalto nomeadamente pela versão Soviética da STG-44 (a AS-44 de Sudaev, que se não falecesse se calhar a historia teria sido outra), a própria M1 americana e armas da concorrência como a TKB-415 e a KBP -410. Mesmo outras soluções foram copiadas das Browning e Remington e após a arma já estar em produção recureu-se à superior TKB-517 para resolver muitos dos problemas encontrados quer no fabrico mas também da operação da AK-47.
A MKB-42 alemã. A captura desta arma alemã ainda em 1942 foi um dos grandes impulsionadores da demanda dos soviéticos por um fuzil de assalto. Mais tarde a STG-44 seria praticamente adaptada e produzida por Sudaev.
Mikhail Kalashnikov terá sempre o seu lugar na história ao conseguir projectar e construir uma arma viável e duradoura, superior neste aspecto às dos adversários e capaz de convencer a comissão a propósito de um fuzil de assalto resistente em detrimento da pontaria sobretudo em disparo automático. Agora, inspirou-se e copiou muitas soluções de outras armas e trabalhou com uma equipa da qual se destaca também Zaitzev que parece ter perdido o seu local na historia com o mito revolucionário da criação de Kalashnikov.
Mas tudo começou com as capturas da MKB-42/STG-44 e com o fornecimento de milhares de M1 pelos EUA.
Depois da captura das armas alemãs seria a carabina M1 a influenciar bastante os soviéticos. Aliás, a primeiro carabina semi-automática projectada por Kalashnikov foi baseada quase totalmente nesta arma e mesmo a AK-47 teria soluções desta e de outras armas como a Remington 8.
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